sábado, 7 de maio de 2011

Aquele cara, da pele de Leopardo

Eu nasci e renasci, e morri, e nasci de novo. E me afoguei no próprio vômito; nadei nas lágrimas enquanto elas desciam morro abaixo; e só ri quando não me restaram mais dentes na boca. Fugi da verdade como o diabo foge da cruz, e mesmo assim ela me encontrou. Ou não. Ninguém sabe se ela existe.
Eu pintei com sangue as escadas do purgatório. E lixei com as unhas a cadeira do rei; parti nos portos sem deixar ninguém à espera, nem dum lado, nem de outro. Andei com os passos mais lentos, mas mesmo assim eu corri. Ou não. A velocidade é relativa.
Eu escrevi um romance em duas frases. E compus sete interlúdios, cada um com a duração de um milésimo de segundo; filmei a Odisséia Do Homem Na Terra quando éramos dinossauros, em 16 milímetros de mentiras, com um metro de 129 mil fotogramas. Perdi as contas dos anos quando ainda contavam meus meses. E já era senil. Ou não. A idade não diz nada.
E entendi que o que é feito, não diz nada. E entendi que o que é dito, não diz nada. E o que importa, também não diz nada. Nós somos um eterno desmentir. Nós somos um eterno desdizer. Um eterno deslizar pela superfície porosa de nós mesmos. Escorregando nas coisas que parecem seguras. Matando o tempo, ele mata a todos nós...