sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ele; Ela e ele

Ele chegou, sentou, e pediu uma bebida que demorou pra chegar. Bebeu tudo de uma vez só, coisa que fez com todas as outras. Era um costume seu, consumir tudo de uma vez; mulheres; bebidas; dinheiro. O lugar era abafado, um daqueles bares conjugados com puteiro, em que não se sabe se o cigarro cheira mais que o sexo, nem quem cheira primeiro.
Quando pensava em ir embora, após o último copo, eles chegaram. Eles, sempre eles. Eles, no caso, eram ele e Ela, os dois motivos de sua ida ao boteco/bordel. Ela, seu amor, e ele seu maior rival. Havia feito duas juras na vida, e os dois jurados estavam ali. Pra ele prometera a morte. Pra Ela, seu amor e tirá-la dessa vida, dos programas e da doença adquirida.
Acho que ninguém jamais traduziu o ódio com tamanha exatidão quanto a troca de olhares dos dois. Foi como se o diabo olhasse por dentro de cada um, e labaredas reverberassem com o som do sangue que começava a subir, e esquentar ainda mais aquele lugar imundo. Coisa de macho! De quem honra o que carrega entre as pernas.
E Ela ali, no meio do fogo cruzado, cliente e amante, num segundo que poderia ser horas. Os dois, ele e Ela subiram pro quarto, pr'aquela que poderia ser a última noite, a saideira dessa vida. Se demoraram na cama depois do gozo, pois sabiam que o outro ainda esperava. Se beijaram, e ele desceu, pra encarar a morte. Mas encarar com braço firme e pulso forte, olhar sedento; pelo gosto do sangue, seu ou dele.
Facas em punho, como manda o figurino, ele partiu pra acabar com a vida, sua ou dele. Ele. Ele era mais forte. "Ele ou eu?" Depois de alguns minutos de luta, todos podiam ver que Ele ganharia, questão de tempo. E Ele, pra não contrariar a lógica, fez-lhe um furo na barriga. E a facada foi seguida de outra, e mais outra, enquanto o outro nadava no próprio sangue, mesmo sangue que tingia os dentes, amarelos outrora, agora vermelhos.
Ele chora, Ela chora e ele morre. Ninguém entende mais nada, e Ele parte sem demora, vai embora! Embora não seja a melhor hora, Ele precisa dela. Sobe, entre sangue, suor e lágrimas, finaliza o amor no leito da mulher. Ele sabe, que pode partir em paz, os dois jurados, tão calados, já não existem mais.