domingo, 18 de setembro de 2011

Tinha uma velha no ponto de ônibus

No momento em que escrevo há uma pequena senhora oriental ao meu lado, nós dois sentados, no ponto de ônibus. Ela deve ter uns oitenta anos. Gorrinho na cabeça, uma bengala apoiada na mão direita, e uns olhinhos miúdos, tristes. Me pergunto o que essa mulher já viu na vida pra ter uns olhos destes...

Ela já percebeu meu interesse, olhares rabo de olho somados a dedadas frenéticas na tela do celular. Tento um sorriso. Ele não sai. Simplesmente não consigo. E ela também, pelo visto. O Ônibus chega; ela sobe e pergunta com uma voz que poderia ser muito bem de uma cantora negra “Esse ônibus vai po cento, né?”, “Sim”. Passo pela catraca enquanto a senhora fica na área reservada aos idosos.

Essa mulher me fez pensar nos meus avós — No meu avô, principalmente! Sentado em uma das respeitáveis poltronas de couro marrom, escutando o Trenzinho Caipira ou qualquer outra coisa orquestrada, enquanto lê o Correio Do Povo esperando a visita de um dos seis filhos. Esperando alguém pra falar mal da defesa do Inter. Esperando companhia pra sinagoga. Um cara como ele, preso a um andador! Oitenta e um anos. Esperando. — Tenho mais sessenta e um então? — Eu... estou... ESPERANDO...

Chegamos ao terminal. A diminuta senhora desce vigiada por meus olhos. Raivosos! Afinal, ela me fez pensar em algo que não preciso. Hope I die before I g-get old”, cantou Daltrey. Eu iria além, Rog, “Hope I die before b-being born”. — Puta merda! a velha realmente estragou o meu dia.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Rock is beat, and beat is rock only

We all have flash, fresh and old fashion styles
We all have voice, advice and other choice awhile
We all have drippin' drops, that follow trots around the pop
But we not hold the laughter after sky start open in our shocks

We used to stay, can many pay for delay freedom
Can one say the first word after write morgue? But it's ok, in Lindon

In Lindon London Callin's makes jokes about the ragman's fall, right now
In Lindon all the people forget about the past for pass blood in tracks
In Lindon girls are such a pretty well done cups of sad up cheers, it hears
And finally, In Lindon the end has no began until the half reach the lunch, with scotch


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Verdades Absolutas de Hermival Efemérides Vol I.

Quinze coveiros são necessários pra cavar o túmulo de um político, enquanto quinze políticos são necessários para contratar-se um coveiro.
Doze mulheres são imprescindíveis pra se começar uma lenda, e doze lendas são necessárias pra conquistar uma mulher.


O Coveiro, na verdade, é um poeta. E o poeta, na verdade, é um coveiro.

sábado, 7 de maio de 2011

Aquele cara, da pele de Leopardo

Eu nasci e renasci, e morri, e nasci de novo. E me afoguei no próprio vômito; nadei nas lágrimas enquanto elas desciam morro abaixo; e só ri quando não me restaram mais dentes na boca. Fugi da verdade como o diabo foge da cruz, e mesmo assim ela me encontrou. Ou não. Ninguém sabe se ela existe.
Eu pintei com sangue as escadas do purgatório. E lixei com as unhas a cadeira do rei; parti nos portos sem deixar ninguém à espera, nem dum lado, nem de outro. Andei com os passos mais lentos, mas mesmo assim eu corri. Ou não. A velocidade é relativa.
Eu escrevi um romance em duas frases. E compus sete interlúdios, cada um com a duração de um milésimo de segundo; filmei a Odisséia Do Homem Na Terra quando éramos dinossauros, em 16 milímetros de mentiras, com um metro de 129 mil fotogramas. Perdi as contas dos anos quando ainda contavam meus meses. E já era senil. Ou não. A idade não diz nada.
E entendi que o que é feito, não diz nada. E entendi que o que é dito, não diz nada. E o que importa, também não diz nada. Nós somos um eterno desmentir. Nós somos um eterno desdizer. Um eterno deslizar pela superfície porosa de nós mesmos. Escorregando nas coisas que parecem seguras. Matando o tempo, ele mata a todos nós...

domingo, 3 de abril de 2011

Os Braços Coloridos

Eu matei meu pai. Matei em mais uma das segundas em que ele acordava pra não fazer nada e ficar na frente da televisão sem nem tirar o pijama, esperando que o mundo viesse a descobrir a grande pessoa que ele (pensa) que é ou o grande homem que ele poderia ter sido se tivessem deixado. Quando matei meu pai ele já estava morto, então não achei mais sentido no existir.
Eu matei o perfume amadeirado, a camisa riscada e o cabelo grisalho. Matei o cigarro, o cheiro do álcool e um nariz adunco. Matei a prepotência e a ausência de qualquer demonstração de afeto. Eu matei um buraco, com um mancha e um rombo, entre o chão, e o teto.
O dia em que ele morreu era uma segunda cinzenta de um mês estranho, num ano ruim preso numa década perdida. Perdida. Engraçado falar assim, dizer que uma década é perdida e que um ano é ruim, né? Pra mim é sempre igual, desde que eu nasci. Li um livro que dizia que um ano tinha sido ruim, e achei que dava pra usar aqui. Será que fiz mal?
Ah, lembrei que tinha uma música. Living is easy with eyes closed, dizia a voz de barítono, enquanto a navalha entrava na carne, afogando meu velho no sangue que é meu também, num sangue que tem gosto de xerez, e que já viveu dias mais limpos, aposto!
Fiz exatamente o que a música dizia: tornei a vida mais fácil, fechando os olhos do meu pai enquanto ele se concentrava em cerrar os punhos em torno dos meus braços. Não pensei que um cara tão magrelo pudesse ter tanta força, sinto os braços amortecidos até agora. Amortecidos e arroxeados, com tons mais fortes entre verde e azul que se misturam com o vermelho e roxo do sangue formando uma coloração quase bonita. O mais estranho é que faz tanto tempo e meu braço continua igual: amortecido e colorido; marcado das unhadas que nunca cicatrizaram e vertem sangue com cheiro de xerez toda segunda.
Aliás, alguém sabe que dia é hoje?