quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Hermival's Keep Drippin' Blues

While Orson Welles lick the citzen kane's dick
For show how grated he could be
Lennon say you've got to be free
Hear a Paul, and Ringo is so much better than me

Words can't tell truth, still going that boots
Around that fuckin' liars
Cortázar think you're not a bastard
But you still read the same wrong writers

Hear the voice of alphabet make us so incorrect
Then you really want to go
To things that almost nobody knows
And now, that joke spokes in Desolation Row

sábado, 18 de setembro de 2010

Silêncio-Martini-SavoyTruffle.

Tudo nos conformes lá fora, e ele ali dentro dela, paralisado; com a cabeça vazia, sem nada pra rodar as engrenagens, exceto por Savoy Truffle, que toca repetitivamente. Estão naquele momento mecanicamente perfeito, pós-gozo e pré-sono. Ele quer falar, ela também. Estranhamente, os dois se calam.
Há umas duas horas os versos iniciais que circundam a cabeça do casal não trazem nenhum sentido em especial: "Cream tangerine and montelimar, a ginger sling with a pineapple heart". Talvez por isso sejam tão atraentes, nada-faz-sentido.
Estão os dois ali, estáticos. Estáticos. Tudo se move por fora, mas os dois permanecem parados, e em movimento. A cabeça a mil, não para de pensar na melhor coisa a dizer. Estranhamente, os dois falam, ao mesmo tempo, pra em seguida se calar.
O riff lambe os ouvidos, e agora o Martini ao lado da cama umedece a garganta. Eles se movem, levantam, se vestem, mas continuam parados. "Sartre Filho da Puta", ele pensa em voz alta. Ela pergunta o que houve. Ele se cala, começa a se despir mais uma vez, e põe Savoy Truffle pra tocar, por mais uma meia hora, no mínimo. Mesmo que depois o silêncio se torne ainda mais insuportável, lá vão eles mais uma vez...

"Cool cherry cream and nice apple tart, I feel your taste all the time we're apart"

sábado, 26 de junho de 2010

O Sol Nascer Quadrado




















Sete horas. A boca tá seca, tão seca quanto a terra fora do Urso Branco. É verão em Porto Velho, sempre se pode contar com a chuva, que deixa tudo mais quente quando vai embora... Mas quando chega, aaah! É aquele alívio! Você poderia comparar a situação a uma tremenda gozada, mas não, nessas circunstâncias a chuva é bem melhor. Circunstâncias. Elas que te trouxeram até aqui, Jadílson. Nome engraçado esse, Jadílson. Jadílson é nome de pedreiro ou bandido ou ponta-direita. Você foi os três, cara. Olha só, que orgulho pra mamãe, Jajá! Olha só, quanta história pra contar, Jajá! Jajá, não finge que não tá ouvindo! Vamos contar essa história direito.
Pedreiro. Vamos começar por aqui então. Pedreiro! Trabalhando com o pai, lá em Rolim de Moura... "aquilo que era vida, eu era feliz e não sabia". Não, não era. Mas tudo bem, todo mundo faz isso, mente pra si mesmo. Principalmente se a vida tá uma merda. E a tua sempre foi uma. HAHAHA Tá, vamos lá.
Pedreiro. Dizem que o segredo tá na massa, na hora de mexer. E nisso você é bom, né? Que o diga o bugre boliviano que divide a cela contigo. Que belo casal, hein?! Se o teu pai te visse... ia dar uma surra pra até os netos nascerem tortos. Era isso que ele dizia, né? HAHAHA Desculpa, eu não faço por mal, é que eu acho engraçado, sei lá.
Você trabalhava com o pai, lembra? Vivia dizendo que ia sair dessa vida de fazer reboco. E agora, tá aí, sendo rebocado! Por um boliviano! Deus é um cara engraçado, com certeza! Se não é ele, é o capeta. Senso de humor é tudo hein, Jajá? Tá ouvindo? Eu sei que tá. HAHAHA Ai, eu tô rindo pra CARALHO, seu filho da puta! Rindo de ti, é claro.
Então, daí dum dia pro outro foi embora, tanto falava que nunca achei que ia. Mas foi. E aí virou ponta-direita no Ji-Paraná. Era titular e tudo. Até que tava bem, tão bem quanto um jogador de futebol em rondônia pode estar. Jogava bem, era rápido, chegou a ir pro São Raimundo, mas sentiu saudades.SAUDADES DO QUÊ? Não tinha mais família, namorada, quase nenhum amigo... Tá, voltou pra Ji-Paraná. Ninguém sabe o que aconteceu pelas bandas de Manaus, só que voltou diferente. Não tinha a mesma bola. Treinava muito pouco e quando ia, não rendia. Começou a arrumar confusão, feito aquela na casa do treinador, lembra? Chegou com cachaça até na alma, reclamando que era perseguido, e que ia se vingar descabaçando a filha do treinador. Doze anos, Jajá! A menina tinha doze anos, cacete! Mereceu a surra que tomou, do time todo. Te arregaçaram! Me diz, o gosto do sangue é bom, Jajá? Ficou sem time. Ninguém quer contratar um pedófilo. Voltou a ser pedreiro.
Mas não por muito tempo. Aí é que entram elas, as circunstâncias. Começou com a mela. CACETE! Não rendia mais. Paranóia. Sabe o que é isso, Jajá? Tá ouvindo esse barulho? É o teu cérebro derretendo, mais rápido que sorvete no sol; e você aí, travado. Vivia num submundo. Quer dizer, aqui é o submundo. As pessoas normais tão no submundo por aqui. Onde é que você tava então? Dormia abraçado com a fome, primeiro em casa, depois na pracinha.
Daí chegou o Virilha, grande Virilha! O apelido vinha de uma briga. Ele tinha se estranhado com um malandro, quando ainda morava em Jaru. No meio da briga, o Virilha, que ainda não era Virilha, cravou um canivete no meio das pernas do cara. Parece que o golpe pregou o pau do cara na virilha. Aí foi só correr pro abraço! Dizem que matar com ódio dá a mesma sensação que um gol nos acréscimos, em final de campeonato. Eu não sei! Nunca fiz gol em final de campeonato... HAHAHA Virilha furou, em suas próprias palavras "O bucho daquele boquetero, pra sangrá até morrê" Dali em diante não era mais Waldir, era Virilha.
Virilha era bonito, né? Pra ele te convencer não demorou tanto assim...Quando a cabeça não ajuda, o corpo padece, era assim? Ele te usou. Você nem ligou, queria ser usado. Mas não do jeito que ele usou, não é, Jadílson? HAHAHA Ai, essas risadas dão uma desafogada na tensão, né? Não? Pra mim, sim. Combinaram de roubar o posto, o Virilha já tinha trabalhado lá, e sabia que o cofre ficava embaixo do balcão. Ideia muito original. E inteligente. Mas tá, o que esperar de alguém chamado Virilha? Do cara que usava uma camiseta estampada com o rosto do Chico Mendes, sem saber quem era. Em plena Amazônia!!!
Chegaram lá, saiu tudo igualzinho no ensaio. Ia dar certo, não fosse você querer levar uma Coca do posto. Vocês tinham mil e quinhentos reais, seu asno! JADILSON, DEIXA ESSA COCA! BURRO DA PORRA! LARGA ESSA COCA, CARALHO! Todo mundo ouviu. Viu Virilha armado na porta, e ligou pra polícia. Foram pegos. Fugir de bicleta de um assalto? Aposto que foi ideia tua! HAHAHA Pra melhorar a situação, o Virilha atira no dono do posto antes de ir embora. Atira no pneu do Gol 79 que era pra ser uma viatura. O PM perde o controle e joga o carro em cima de quem? Da BICICLETA! Genial esse teu comparsa, Jajá! Nem Groucho Marx escreveria um roteiro assim. E agora esse sorriso amarelo? Não finge que não é contigo! Não finge que é surdo! Escutou?
São nove horas. Os olhos tão úmidos. Parece que o Rio Madeira tá vertendo deles. E o boliviano querendo um particular contigo...
BOA SORTE, JADÍLSON!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Bandejista

O asfalto é uma extensão das pernas enquanto você corre! Corre, como se a sua vida dependesse disso; parece que nasceu pra esse momento, p’ressa corrida. Corre contra o relógio (ou ele corre contra você?). Corre pra pegar o ônibus. Corre pra interromper o fluxo crescente de esperma que Deus despeja na tua boca enquanto goza da tua sorte.
— Sabe que no final do arco-íris, não tem nenhum pote de ouro, mas sim um cu preto e cabeludo? Poisé... Mesmo que o único misto quente na tua vida seja um sanduíche, você concorda com Chinaski: Você é Chinaski!
Aquele monte de corneteiros, dia-a-dia, crescendo pra cima de ti, espremendo contra a parede de uma maneira incrivelmente dolorosa? É pra te fazer desistir. E mais cedo ou mais tarde, é claro que tu vai. Afinal, que chances tem alguém com ESSA aparência? Os dentes tortos, quase sujos. Os olhos são fracos, não dizem nada e mesmo que pudessem não diriam. No somatório da obra, acho que você é um rascunho. UM RASCUNHO FODIDO DE TRINTA ANOS! Um monte de merda amargurado por nunca ter sido o que achava que era pra ser! E nunca poderia ter sido, você sabe disso.
Eu poderia levantar daqui. Desligar o computador e ir até a mesa que você limpa. Eu diria — Cara, abre um sorriso! Qualé a tua? O mundo tá aí, sorrindo pra ti, você tem sorte de não ser judeu. No Paquistão. Com uma camisa do Bush. Resenhando um filme do Goddard. Ouvindo Calypso e comendo beterraba. Tem um monte de mulher linda querendo dar pra ti! TEU PAU É DE OURO! Tem uma música que eu gosto muito, que diz assim, cara. Presta atenção! É natural, nem tudo sair como se espera. Mas todo ano vem a primavera, e o calor do sol ta aí, pra te abraçar. — Mas não vou. Tenho preguiça e principalmente, é mentira. A tua vida é um saco, mas é a única que você tem.
Eu me pergunto. — Sério, eu realmente me importo. — Eu me pergunto se você se pergunta:”O que eu fiz pra merecer tanto?” E faria alguma diferença saber? Claro, você poderia matar o culpado, com o preço de privar-se do paraíso. Porque, suicídio é pecado, não?

terça-feira, 22 de junho de 2010

O Buraco

Sabe um buraco bem fundo?
Você só quer estar nele, e mais nada.
Sem nada.
Despido de tudo e de todos;
longe até da própria consciência.
Sem pretensão alguma.
Pensando em como tudo o que você é, talvez
não seja o que realmente é
e em como seria se fosse como quer ser.

"Eu não vou mais trabalhar na fazenda da Maggie"
Você decide ao som frenético do BLUES que ressoa na própria cabeça,
somente nela.
Talvez nada faça sentido no buraco.
Esse é o encanto!
Você pode pensar.
POR SI PRÓPRIO!
Se é que é possível...
Pensar por si, onde já se viu...


segunda-feira, 7 de junho de 2010

T.I.A.I.

Ah, não fossem as palavras... suspira o avô, as fissuras na face marcando a passagem do tempo como troféus, cada ruga contando uma história Estaríamos nos grunhidos, na mímica, na gesticulação (os italianos que o digam). Mas o que mais me fascina, João, são as palavras escritas. Escritas e impressas, porque esse computador que tu endeusas não me agrada. É frio e desalmado. E ler nele então? Uma tortura prestes olhos velhos de guerra.

João se acomoda na poltrona, embevecido pela prosa do velho que usa as palavras como ninguém, que tem na voz rouca um convite ao silêncio. O velho acende um cubano, umedece a garganta com mais uns goles de seu ilícito “Tequila Sunrise” e pronto a destilar sabedoria, comenta com o neto que o criador do drinque foi o roqueiro Mick Jagger, que proibido de consumir álcool, criou a batida com visual de laranjada.

Retorna a falar Imagine, João, se as palavras não existissem, o que seria de nós? Viver em um mundo sem poesia, sem filosofia, sem literatura? Sem as palavras, como Marx mudaria o rumo da história com o seu “Manifesto”? Ou Sartre, imagine-o tentando explicar o existencialismo, não no charmoso idioma francês, mas por meio de gestos? Cruz e Sousa, sem a genial pena, a única válvula de escape? E mais, o teu querido Chico Buarque, sem a genial poesia de boteco, sem as palavras pra cantar na voz tímida?

O neto assente com a cabeça, concordando com as sentenças do avô, que torna a falar, devagar e sempre, como de costume E digo mais! Sem as palavras nem Deus existiria. Sem as palavras o mundo seria mais feio, mais triste, e paradoxalmente mais feliz.

João consulta o relógio. Sete horas. Deve voltar antes de escurecer. Despede-se do avô com um beijo na testa e sai pelos corredores do sanatório. O avô ainda grita em sua voz rouca de fumante: Mande um abraço a Lênin e Trotsky. Pra Stálin não, não vale o chão que pisa. O Mundo é azul. Mas um dia será vermelho! VERMELHO!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Amor no século XXI

I-Numa galáxia distante, dois homens discutem. Um deles é alto, forte, bonito e sensual, talvez a solução dos seus problemas. O outro, mais baixo, magrelo, narigudo, parecendo uma cópia mal acabada do Woody Allen. Estão os dois de pé, parados. Na sala de estar. O mais alto se chama Ronaldo, graduado em Economia, CEO de uma grande produtora de cosméticos. Adriano, o magrelo, é escritor, e escreve muito mal. Portanto, ficou milionário. Sabe-se lá por que, caiu nas graças do público, escrevendo estórias esotéricas, minadas por mensagens de motivação e que terminam sempre com a mesma frase (roubada de Scarface): O MUNDO É SEU!

II-Os dois são um casal. Os dois discutem. E o motivo da discussão, é a fixação de Adriano em Al Pacino. Ronaldo sente ciúmes. Claro, um ciúme justificadíssimo, afinal, quem não sentiria ciúmes diante de uma possibilidade tão real de traição, não é? Agora, Ronaldo cansou, sentou, cruzou as pernas, enquanto Adriano fica brincando com o bico de seu scarpin . O fenômeno toma fôlego e começa:
- Ai Adriano, você tá me ouvindo? Você nunca me ouve!
- Tô sim!
- Para com isso, sério. Tá ficando doentia essa fixação por ele...
- Amor, é só um ator. Mora nos EUA, não tem perigo nenhum. E olha, hoje em dia ele tá bem acabadinho, só gosto da fase oitentista dele, sem neuras.
- Sem neuras? Sério, só falta chover, de tão úmida que fica a sala quando ele aparece! Porra, Adriano! Ele é baixinho, narigudo, o que você vê nesse cara? O que ele tem que eu não tenho?
- Você é mil vezes melhor, mil vezes. Eu só acho ele interessante, gosto dos filmes dele. E para de coçar o saco na minha frente, meu deus. Tira essa mão da cueca, porra! Cadê o romantismo?
- Viu? Eu não tenho como competir com ele. Ele não é real, não é um executivo, com um trabalho chato como eu... Mas quem te leva pra comer sushi? Quem assiste os filmes conceituais de veado com você? EU! EU!
- Como assim, filmes de veado? Agora você vai dizer que é machão?
- Veado é quem dá
-AAAH, me diz que eu não escutei isso! QUE DECEPÇÃO! Você realmente pensa isso de mim? Eu sou um veado, sou sua mulherzinha, e você é o machão?
- É! Você não passa de um veadinho!
- CARA, VAI SE FODER! VOU TE QUEBRAR NO MEIO!
- Vem então, magrelo!

III- Após partirem para a agressão física, Ronaldo quebrou três costelas de Adriano, além do nariz do companheiro. Adriano conseguiu dar duas mordidas na mão de Ronaldo, mas está tudo bem entre os dois. Eles se reconciliaram, e planejam adotar uma criança em breve. Motivado pela superação do trauma, Adriano escreveu mais um livro de sucesso: "Quem come é gay também?". Eles vivem felizes numa casa em Campinas, mas costumam passar férias em Pelotas, ou em Florianópolis, em sua praia predileta, a Galheta.

IV- Essa história é real.

V- Mas, não tem nenhuma lição. Quer dizer, tem sim:


O MUNDO É SEU!




terça-feira, 30 de março de 2010

A Vagina na Redoma de Vidro

Era uma vez, num país distante, entre o ducados de Pélvis e Clímax, quando o mundo não era mundo, ou não era chamado mundo, e todo mundo, andava por aí meio imundo, que uma tradição imperava: o homem que possuísse mais vaginas, era adorado pelos seus semelhantes (claro, muito diferente de nossos tempos...).
Segundo fontes bibliográficas confiáveis, como por exemplo, o livro Xô, Xota! Uma análise teórica do comportamento sexual masculino desde os primórdios das eras , do famoso pesquisador empírico na área sexual, Alexandre Frota, a ideologia vigente era a do "Pega, fode, tira a roupa e esculacha, entendeu?"
Funcionava mais ou menos assim; para cada mulher que possuísse, o homem detinha o direito de decepar a vagina, e tomá-la para si. Era costume os homens andarem com uma redoma de vidro, onde depositavam as vaginas adquiridas, mostrando para os rivais, o quão viris eram. O finado historiador sexual, Clodô Hernandez, afirma que o mais famoso conquistador dessa época foi Penóquio, que contabilizou 669 vaginas em um curto período de atividade. Segundo as más línguas, o próprio historiador foi uma de suas conquistas, mesmo vivendo mil anos à frente do garanhão de madeira. (Confira a história de Penóquio aqui).
Tudo corria normalmente, isto é, os homens continuavam a deflorar mancebas, com o simples intuito de aumentar o peso de suas redomas e o tamanho de seu prestígio. Muitas estratégias eram usadas: flores; sushis; falsa erudição; cavalos emprestados pra que se aparentasse mais posses... Até que, surgiu uma mulher diferente. Você se pergunta "Uma mulher idealista, de vanguarda, decidida, que não quer mais viver à mercê dos homens?" Resposta rápida: Não. É muito mais simples. Ela simplesmente, era lésbica! E como toda mulher, queria provar para os homens que poderia ser tão boa ou até melhor no que eles faziam.
Por ser mulher, tinha muito mais tato e educação do que os ogros movidos a testosterona. Consequentemente, ganhava o coração das mulheres, com calma, deixando-as confusas, sem saber se queriam ser plugue ou tomada. E nessa hora, quando a indecisão tomava conta das pobres donzelas, ela atacava, num golpe único e certeiro. Logo, fez fama, e começou a superar todos os homens. Não havia mais espaço em sua redoma.
Os homens, criaram então uma nova tradição. Não iriam mais brincar de colecionar as conquistas e andar com elas penduradas na cintura. Escolheriam uma vagina oficial, pra passar o resto da vida, e ela estaria simbolizada por uma espécie de jóia no dedo anelar da mão esquerda. Ficou instituído também, que o homem andaria de mãos dadas com a vagina, quer dizer, com a mulher. Para proteger a amada, é claro. Nunca para ostentar!
E hoje, aqui estamos nós.

Atesto que sou um bode e não entendo nada de relações humanas, por isso considero esse relato imparcial e totalmente isento de ideologias, preconceito e tudo isso que as mulheres chamam de machismo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ele; Ela e ele

Ele chegou, sentou, e pediu uma bebida que demorou pra chegar. Bebeu tudo de uma vez só, coisa que fez com todas as outras. Era um costume seu, consumir tudo de uma vez; mulheres; bebidas; dinheiro. O lugar era abafado, um daqueles bares conjugados com puteiro, em que não se sabe se o cigarro cheira mais que o sexo, nem quem cheira primeiro.
Quando pensava em ir embora, após o último copo, eles chegaram. Eles, sempre eles. Eles, no caso, eram ele e Ela, os dois motivos de sua ida ao boteco/bordel. Ela, seu amor, e ele seu maior rival. Havia feito duas juras na vida, e os dois jurados estavam ali. Pra ele prometera a morte. Pra Ela, seu amor e tirá-la dessa vida, dos programas e da doença adquirida.
Acho que ninguém jamais traduziu o ódio com tamanha exatidão quanto a troca de olhares dos dois. Foi como se o diabo olhasse por dentro de cada um, e labaredas reverberassem com o som do sangue que começava a subir, e esquentar ainda mais aquele lugar imundo. Coisa de macho! De quem honra o que carrega entre as pernas.
E Ela ali, no meio do fogo cruzado, cliente e amante, num segundo que poderia ser horas. Os dois, ele e Ela subiram pro quarto, pr'aquela que poderia ser a última noite, a saideira dessa vida. Se demoraram na cama depois do gozo, pois sabiam que o outro ainda esperava. Se beijaram, e ele desceu, pra encarar a morte. Mas encarar com braço firme e pulso forte, olhar sedento; pelo gosto do sangue, seu ou dele.
Facas em punho, como manda o figurino, ele partiu pra acabar com a vida, sua ou dele. Ele. Ele era mais forte. "Ele ou eu?" Depois de alguns minutos de luta, todos podiam ver que Ele ganharia, questão de tempo. E Ele, pra não contrariar a lógica, fez-lhe um furo na barriga. E a facada foi seguida de outra, e mais outra, enquanto o outro nadava no próprio sangue, mesmo sangue que tingia os dentes, amarelos outrora, agora vermelhos.
Ele chora, Ela chora e ele morre. Ninguém entende mais nada, e Ele parte sem demora, vai embora! Embora não seja a melhor hora, Ele precisa dela. Sobe, entre sangue, suor e lágrimas, finaliza o amor no leito da mulher. Ele sabe, que pode partir em paz, os dois jurados, tão calados, já não existem mais.