No momento em que escrevo há uma pequena senhora oriental ao meu lado, nós dois sentados, no ponto de ônibus. Ela deve ter uns oitenta anos. Gorrinho na cabeça, uma bengala apoiada na mão direita, e uns olhinhos miúdos, tristes. Me pergunto o que essa mulher já viu na vida pra ter uns olhos destes...
Ela já percebeu meu interesse, olhares rabo de olho somados a dedadas frenéticas na tela do celular. Tento um sorriso. Ele não sai. Simplesmente não consigo. E ela também, pelo visto. O Ônibus chega; ela sobe e pergunta com uma voz que poderia ser muito bem de uma cantora negra “Esse ônibus vai po cento, né?”, “Sim”. Passo pela catraca enquanto a senhora fica na área reservada aos idosos.
Essa mulher me fez pensar nos meus avós — No meu avô, principalmente! Sentado em uma das respeitáveis poltronas de couro marrom, escutando o Trenzinho Caipira ou qualquer outra coisa orquestrada, enquanto lê o Correio Do Povo esperando a visita de um dos seis filhos. Esperando alguém pra falar mal da defesa do Inter. Esperando companhia pra sinagoga. Um cara como ele, preso a um andador! Oitenta e um anos. Esperando. — Tenho mais sessenta e um então? — Eu... estou... ESPERANDO...
Chegamos ao terminal. A diminuta senhora desce vigiada por meus olhos. Raivosos! Afinal, ela me fez pensar em algo que não preciso. “Hope I die before I g-get old”, cantou Daltrey. Eu iria além, Rog, “Hope I die before b-being born”. — Puta merda! a velha realmente estragou o meu dia.